Esgotou quando esteve em exibição no IndieLisboa. A crítica era positiva. O filme conseguiu a proeza de reunir sete histórias contadas por sete grandes realizadores, que mostram a realidade das crianças nos seus países de origem. O conjunto brilha e funciona bem, mas nem todos os argumentos são fantásticos. Falo de "All the Invisible Children", que fui ver no auditório de Mafra (afinal, até passam bons filmes lá na terra dos saloios).
Tanza, de Mehdi Charef (Rodésia do Sul) - Tanza perdeu a infância. Uma causa maior, defendida por sete elementos, fez com que o menino, agora obrigado a ser homem de guerra, deixasse para trás os lápis de cor, os cadernos, o recreio. Agora, ele tem uma arma, pensa em estratégias de ataque e anda por aí. Nunca descalça as botas. Não sorri. Volta a ser feliz naqueles minutos em que regressa à escola, aquela que terá de destruir em nome da causa maior, e sente, novamente, o cheiro dos lápis e dos cadernos. Descalça-se... A história peca apenas por ser falada num inglês muito mal arranhado.
Blue Gipsy, de Emir Kusturica (Sérvia-Montenegro) - É o mais divertido. Não causa aquela pieguice fácil. Blue Gipsy mostra uma realidade dura da Sérvia-Montenegro (agora, dois países distintos) mas sem ser lamechas. A música, os planos, a vitalidade e a esperteza do olhar do rapaz estão bem conseguidos.
Jesus Children of America, de Spike Lee (EUA) - Este toca lá bem no fundo. E dói. Pais junkies, completamente alienados do sofrimento de Blanca, gozada na escola e discriminada por ser portadora de HIV. Impressionou-me, da mesma forma que me impressiono sempre que vou tirar sangue (não consigo olhar), ver o braço do pai, completamente infectado mas pronto a receber mais uma dose. Exigia-se um final mais convincente.
Bilú e João, de Katia Lund (Brasil) - Falado em português do Brasil, mostra a força e a luta de dois irmãos que fazem do desperdício dos homens, o seu ganha pão. Nunca desanimam. Nunca baixam os braços. Não podem. Não querem. E vale-lhes a imaginação e vitalidade que só as crianças conseguem ter. I wish! Muito bom.
Jonathan, de Ridley e Jordan Scott (UK) - É o mais fraco, pela confusão da alegoria que pretende fazer e que não é bem conseguida. Quebra o ritmo de todo o conjunto.
Ciro, de Stefano Veruso (Itália) - Igualmente pouco convincente. É uma história que não agarra e é pouco esclarecedora. Miúdos de rua que roubam para ganhar a vida existem em qualquer parte do mundo. Vale pela música e pelas cenas do jogo das sombras.
Song Song and Little Cat, de John Woo (China) - É o espelho de duas realidades bem distintas, duas faces da mesma moeda, naquela imensidão que é a China. Há poucos diálogos, mas as expressões e os olhos das crianças dizem tudo. É de uma ternura incomparável.
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