quarta-feira, 27 de maio de 2015

Verde, ar puro e piu pius

Nota 1: Morar na aldeia tem muitas, mas mesmo muitas vantagens.
Nota 2: Não julgar os vizinhos (ou qualquer outra pessoa) pelas aparências.

Gosto do conceito de bairro, num sítio onde as pessoas dizem bom dia, mesmo sem me conhecerem, só porque nos cruzamos na rua... Onde encontro café, e do bom, a 50 cêntimos e onde ao fim de duas visitas, já me conhecem como se aqui morasse desde sempre. Onde posso ir a pé comprar pão. Ou ter o som do sino da igreja a dar as horas de deitar a pequena.
Sempre gostei de morar em sítios pequenos, em prédios pequenos e tratar os vizinhos por tu. Os meus antigos vizinhos eram (e são) uns porreiros. Não só pediamos açúcar quando faltava, como batatas, natas, ovos, ou levávamos uma fatia de bolo acabado de fazer (neste caso, levavam-me, porque eu a fazer bolos é irreal)... Fazíamos parte das festas de aniversário uns dos outros, churrascos, minis... Tomávamos conta dos bichos uns dos outros... Enfim.
Agora, o cenário é diferente, o que me leva à nota dois. Sendo curta e grossa, os meus actuais vizinhos não primam pela boa aparência mas isso nunca nos impediu de trocar os típicos bom dia e boa tarde... Não julgo ninguém pelo aspecto mas não me venham dizer que não é essa a primeira impressão que têm das pessoas... E os meus vizinhos não têm bom aspecto. Mas são simpáticos. De vez em quando, lá nos encontramos, as mulheres, a estender roupa e a falar do tempo que está bom para secar a roupa e que temos de aproveitar. À minha vizinha de baixo, peço desculpa pelo barulho que fazemos em cima, não só a miúda mas eu também... E ela sorri, não tem um sorriso bonito, mas sorri e diz que não faz mal, que é normal. Preocupo-me com a bebé de baixo, eu também a ouço cá em cima, mas fazer o quê?
Hoje fui surpreendida, pela positiva. Cheguei a casa e tinha novamente o raio da caixa do correio aberta. Estou a abrir a porta de casa quando ouço uma vizinha, outra que também não tem um sorriso bonito, a chamar-me, para me avisar do sucedido e que era perigoso porque às vezes andam uns gandins a ver se sacam os vales da Segurança Social, que eu, por acaso, não recebo... E logo o marido se prontificou a mudar-me a fechadura já amanhã, para eu ficar descansada. Seguiu-se uma surpreendente conversa sobre filhos e um resumo amargo da vida da senhora e do filho que afinal é neto e que ela salvou das mãos da ex-nora, mas que a trata por mãe e não sabe que na verdade é avó, a que se seguiu toda uma série de acontecimentos trágicos. "Mas olhe, para a frente é que é o caminho e fique descansada que amanhã tratamos da caixa do correio".

Nota 3: É isto e ir à janela e ver um casalinho a namorar na rua, ela de mini saia a roçar-se no rapaz e ele de mãos nos bolsos... Pobre rapariga...

domingo, 24 de maio de 2015

Fim-de-semana todo meu!!!

Para começar, sou o Anticristo das mães. Assumo-o sem pudores. Sei que há mais como eu mas não se assumem por vergonha perante terceiros.
Tive(mos) uma semana do inferno. Ela doente, com febre tão alta que me parava o coração. Eu, doente por a ver naquele estado e sem dormir noites seguidas em estado de vigília constante.
Até aqui tudo bem, o papel de mãe stressada estava a ser cumprido na íntegra. Mas a minha cabeça pensava noutra coisa... Na chegada do fim-de-semana em que ela iria para o pai e eu teria todo o tempo do mundo para fazer o que bem me apetecesse. Pois... No fundo eu queria que a miúda melhorasse, não só porque fico em modo down quando ela está assim, mas porque eu queria e precisava desesperadamente o meu fim-de-semana!!
Chocados? Não vale a pena... Já o disse anteriormente que além de mãe, sou mulher, eu, gaja, que gosto de sair, estar com amigos e ter conversas normais sobre tudo menos filhos, de ficar em casa sozinha a ouvir música, seja o que for.
E por isso, eu queria o meu fim-de-semana. E tive-o!

Ir para uma praia fora do meu circuito habitual, estender-me a torrar ao sol, sem pensar nas horas impróprias para ir à praia. Aborrecer-me com os miúdos a correrem na areia e a sujarem-me a toalha. Ir ao bar buscar uma imperial e sentar-me no areal sozinha, a bebê-la, descontraída, a observar os que estão à minha volta e a escutar as conversas... Soube tão bem!!!
E porque o dia de calor era para aproveitar ao máximo, meti-me depois a caminho do Chiado, um dos meus locais de eleição em Lisboa. Lojas cheias, filas para a Santini, gente e gente com sacos a passear nas ruas, para cima e para baixo, uma feira de alfarrabistas numa esquina...
Mas a minha visita ao Chiado tinha um objectivo... Nuttelaria!!!! A fila não me demoveu, como a alguns, eu tinha todo o tempo do mundo só para mim. E satisfiz a gula com um belo crepe com Nutella, que devorei numas escadinhas lá fora...
Para terminar, e porque já eram seis da tarde, sentei-me numa tasquinha no Bairro Alto a beber imperiais, a comer tremoços e a ver o meu Benfica, claro está.
Se pode haver programa de sábado melhor do que este? Pode... Mas para mim, este foi o melhor sábado que eu poderia ter. E tive!

P.S.: Então e o domingo? Pois, ontem foi dia de ramboia, hoje é dia de limpar a casa, né?

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O desafio...

Numa ida ao parque perto de casa, a MR andava, como sempre, a correr os baloiços, o escorrega, os cavalinhos, com a alegria habitual de uma criança que não pensa em mais nada se não em divertir-se.
Nesse mesmo parque, há um tapete com vários brinquedos, livros, que todos podem usufruir. A certa altura, ela senta-se junto dos outros meninos mais velhos e começa, claro, a brincar... Mas nem todos aceitam a presença da miúda... Primeiro, porque é mais pequena... Segundo, porque começa a mexer nos brinquedos que os outros, de repente, também querem. Pega num carrinho, e vem um miúdo que o tira a dizer "é meu". Vai buscar um pónei, e outra miúda diz "eu estou a brincar com isso" (por acaso não estava...).
A MR ainda não percebe... E fica com aquela cara... de quem não percebe, mesmo, o que se passa... Olha para mim e eu digo para brincar com outros bonecos, com a bola, disfarçando tudo aquilo que me passa pela cabeça naquele preciso momento... Infelizmente, a MR vai desiludir-se, vai sentir-se triste, vai perceber que há crianças parvas, que mais tarde se tornarão, na sua maioria, em adultos parvos.

Felizmente, a sua tenra idade e inocência fazem com que ela vire as costas para voltar ao escorrega, aos baloiços, e esqueça em segundos aqueles miúdos parvos. Mas eu fico a olhar para ela, com os olhos em lágrimas e um aperto no coração com o que tinha acabado de assistir... A minha filha a ser colocada de parte por pares só porque queria brincar com eles.

Eu sei que tudo isto adquire uma maior dimensão porque se trata da minha miúda e por isso mesmo, deu-me vontade de arrancar aqueles brinquedos aos miúdos parvos e dá-los à MR... Controlei a minha raiva de "momzilla" e ao dizer-lhe para brincar com outras coisas, estava também de alguma forma a ensiná-la a desvalorizar aquela triste cena...  Que ela ainda não sabe que é triste... Também não sabe o que é desvalorizar. Um dia, eu explico-lhe... Tal como lhe vou explicar que não há nada nem ninguém melhor do que ela... Obviamente, não posso protegê-la de tudo, nem impedir que alguma criança parva lhe diga coisas parvas, ou mesmo que uma miúda com inveja lhe dê uma estalada... Só quero que ela saiba o que fazer... Mesmo que seja responder com outra estalada... Mas nunca, nunca, sentir-se menos do que o tudo que ela é!