sexta-feira, 6 de outubro de 2006

A casa da mãe...

... será sempre a minha casa, também. Eu, neste meu feitio de ser muito independente, sempre pensei que a saída do "ninho" fosse "na boa". Saudades? Sim, o normal. Afinal, deixar a casa que nos viu crescer, onde passamos da infância à pré-adolescência, da adolescência à fase adulta, é como cortar, definitivamente, o cordão umbilical. Acho mesmo que é nesta altura que nos consciencializamos que já somos grandinhos. Não me custou nada sair de casa, até porque foi uma decisão muito rápida, sem pré-aviso. A minha mãe estava de férias no Norte. E telefonou-me. "Então? O que fazes?" - "Olha, estou a fazer as malas, estou de mudanças." - "Ai sim? Então, já fizeram a escritura da outra casa?" - "Não. Enquanto não fazemos, vou para esta" - "Está bem". Sem problemas. Aliás, a minha mãe nunca foi de levantar problemas nem tão pouco se encaixa no perfil de mães conservadoras (apesar de ser uma mulher conservadora em determinados aspectos) que tem de proteger a filhota mais nova. As minhas irmãs mais velhas apanharam esta fase, de terem horários rígidos para cumprir, horas para estar em casa e serem seguidas pelo olhar da mãe sempre que entravam no carro de alguém. Eu, a mais nova, apanhei a fase boa, a fase do "vai mas não abuses", "vens à hora que a Tânia vier". Melhor, "se vais com o Rui - o meu irmão - então está tudo bem". Eu abusava sempre, esticava a corda. Chegava depois da hora, fazia algumas misturas e passava o dia seguinte de ressaca. Mas nunca fiquei de castigo. Sempre tive liberdade para fazer o que quisesse e como nunca me meti em sarilhos, estava (quase) sempre tudo bem. O meu pai também, apesar de estar distante e por isso, mais afastado destas coisas, nunca foi um pai tirano. As minhas irmãs dizem-me que tive sorte, que sou a menina mimada e que sempre me deixaram fazer tudo. Azar, os tempos são outros.
Bom... Voltando a casa. Nunca deixei de sentir e de pensar nesta como continuando a ser minha. Ainda digo "a minha rua", "o meu cão", "o meu quarto". E de cada vez que lá vou, sinto-me mesmo em casa, apesar de olhar para o meu quarto e não ver lá muitas coisas. Lembro-me que quando saí, a minha mãe disse-me: "Não precisas de levar tudo. Isto fica aqui, para quando cá vieres". E a verdade é que ainda não consegui levar tudo. Nem quero. Há coisas que pertencem àquele espaço, que não fazem sentido noutro lugar.
Agora, que a mana do meio também saiu de casa, sinto-me triste por saber que a minha mãe ficou sozinha. Conta, claro, com a grande companhia do Putchy, e que grande companheiro ele é. E tenho vontade de regressar.

2 comentários:

Boris disse...

Pode ter sido uma mudança pacifica, mas foi uma grande mudança. Dá tempo ao tempo.

Se regressares, nem que seja temporariamente, não te esqueças de pagar um café aqui ao vizinho.

Anónimo disse...

Não tive um quintal mas tinha um parque mesmo à porta de casa para onde ia jogar à bola e andar de bicla. Não havia um dia que não chegasse a casa com os joelhos esfolados.

Puto, vê lá mas é se apareces na minha nova morada!