segunda-feira, 2 de março de 2015

Nota de esclarecimento



Dar explicações irrita-me solenemente. Mais ainda quando me pedem explicações da explicação, obrigando-me quase a uma narrativa digna de um qualquer sketch humorístico, mas sem graça nenhuma! Não gosto de me justificar com mais de três frases, porque isso implica falar mais do que me apetece. 

“Hoje não posso.”
“Porquê?”
“Estou ocupada.”
“Com quê? O dia todo?”
“Sim.”
“Com quê?”
“A fazer coisas.”
“Que coisas?”
“Eh pá, cenas domésticas, estar com a miúda…”
“ E não tens 5 minutos?”
“Para? Hoje não.”
“Beber café, falarmos…”
“Outro dia, hoje não.”
“Mas nem 5 minutos? Porquê?”

E voltamos ao mesmo. Claro que o diálogo poderia reduzir-se se eu me alongasse nas explicações, e pronunciasse um longo ensaio de justificações que satisfariam de imediato o inquérito… Ou não. Demasiadas explicações puxam outras tantas interrogações, e eu nem percebo bem porquê!!! Por que raio tenho eu de explicar que não divido o meu tempo com a miúda nem o troco por quaisquer 5 minutos de conversa que podem perfeitamente ter lugar noutro dia. Que nenhum assunto é inadiável. Que o mundo continua a acontecer. Porque me apetece estar ali, com ela, a brincar aos bebés, a tapá-los e destapá-los com as fraldas trinta e tal vezes seguidas, a fazer os mesmos puzzles vezes sem conta, ou simplesmente, a olhar para ela. Porque aqueles 5 minutos não voltam a acontecer da mesma forma… A expressão naqueles momentos é irrepetível. Inadiável. Imperdível.

É por isto que não… Hoje não tenho 5 minutos.

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