sábado, 27 de janeiro de 2007

Tu?

Foi numa destas manhãs geladas, com as mãos cobertas pelas luvas que deveriam ter mais pêlo, com a gola do casaco para cima a deixar apenas metade da cara de fora, que o vi, ao fim de quase 6 anos desde a última vez que estivemos com amigos comuns. Quando andamos de metro, temos mais tempo para reparar no que nos rodeia, nas pessoas que entram e saem, que se sentam ao nosso lado. Ainda o comboio não tinha parado na estação e eu já o tinha visto. Casaco castanho de fazenda com a gola para cima, também a tapar-lhe metade da cara. Calças de ganga gastas. Estava mais forte, gordo não. É daqueles homens que duvido que alguma vez ganhe barriga. O cabelo estava igual. Entrou. E das nossas meias caras descobertas, olhámo-nos e reconhecemo-nos imediatamente. Tu? Sim. Depois do sorriso de espanto e de contentamento (mais do que o esperado), seguiu-se a conversa trivial do costume. O que fazes? Estás a morar em Lisboa? Disse-me que se tinha casado (lembro-me de algumas conversas e de ele me dizer que essas coisas de alianças não era com ele) e que tinha a Clara, quase com dois anos. Bem, quem te viu e quem te vê. Depois de uns segundos de silêncio (ao mesmo tempo que olhava e falava com ele, lembrava-me dos anos passados, da escola, das saídas à noite com a malta toda, das amizades daquele tempo), ele despediu-se, ia ter uma reunião com um cliente no Saldanha. Fica bem e até um dia destes. Nada de troca de telefones, nem cafés combinados. Esta história tinha mesmo chegado ao fim, sem que alguma vez tivesse começado.

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