terça-feira, 22 de maio de 2007

A doença dos tempos modernos

Hoje em dia, está na moda dizer que se anda stressado e é fácil culpar o stress de todos os problemas da nossa vida. O trabalho é um stress, chegar a casa e ter de fazer o jantar é um stress, o trânsito é um stress, receber aqueles amigos em casa é um stress, ir às compras é um stress. Tudo está mal por causa do stress. Até o stress é um stress. Uma vida stressada deixa-nos pouco tempo para fazer uma série de coisas. O trabalho ocupa-nos 80% do dia, e quando chegamos a casa, a vontade de ocupar os 20% que sobram é muito limitada. Falo por mim. Não tenho vontade de fazer nem uma sandocha, muito menos de passear o Bono ou de manter um diálogo interessante. A única coisa que consigo fazer é sentar-me no sofá, ligar a televisão e fazer zapping pelos 400 canais. Isto durante uma hora, no máximo, porque depois, arrasto-me até à cama. Com um bocadinho de sorte, ainda me lembro de dizer até amanhã. Os dias seguintes são uma repetição dos anteriores, and so on and so on. A chegada do fim-de-semana, à primeira vista animadora, acaba por revelar-se um exercício de ócio, puro ócio, onde a vontade de não fazer nenhum se sobrepõe à vontade de pensar em qualquer coisa de interessante. Resultado: preguicite aguda, um termo que só agora me faz sentido e que sempre associei a uma brincadeira para definir alguém que não gosta de trabalhar e que vive encostado à parede. A verdade é que isto pode, a longo prazo, tornar-se uma doença, esta sim, a doença do século XXI. Marcamos um jantar lá em casa com os amigos ao fim-de-semana porque dá mais jeito e temos mais tempo, mas depois, a preguiça inventa uma desculpa para marcarmos para outro dia. Combinamos ir ao cinema porque não temos de nos levantar cedo no dia seguinte, mas a preguiça tem um programa melhor. Durante a semana não temos tempo, nas horas vagas a preguiça encarrega-se de tomar conta da nossa vontade.
Qual stress... O estilo de vida moderno esconde outras doenças muito mais perigosas... Que não matam, mas moem, e definham...

2 comentários:

Anónimo disse...

...como te compreendo tão bem...

Espalha Brasas disse...

Veja lá se aparece mais vezes!