terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Agora sim, a maravilhosa viagem a Pipa, passadas quase duas semanas e o bronze, esse, está quase a ir...

Demorou mas cá está. Afinal, isto de se escrever sobre viagens, principalmente, as que se fazem a nível pessoal, é mais difícil do que parece. "Vou ter imensa coisa para escrever, para contar", pensei. E é verdade! Mas também é que há coisas difíceis de explicar por palavras. Pipa é uma vila simples e tudo o que vi baseou-se nessa simplicidade. Talvez por isso, seja complicado escrever sobre a viagem, que começou pela simplicidade e rodeou-se sempre daquele espírito "boa onda" típico, agora sei, dos brasileiros do Nordeste. E contagiante... Aquelas pessoas não sabem o que é stress, não sabem o que é andar depressa para não chegar atrasado. É tudo na boa. A verdade é que passei uma semana "sempre na boa", no "relax", no "tou nem aí"...
Nem sei por onde começar... talvez pelas frases brejeiras e simpaticamente graxistas do guia, Tiago, "cês são um grupo show dji bóla", "eta, gentje arretada". E, claro, a piada sem piada, "Natal é a única cidade do mundo onde se pode desejar Feliz Natal todo o ano".
Podia também começar pelo percurso Natal-Pipa, já de noite (19h), em estradas estreitas, sem qualquer iluminação a não ser a das televisões das casas, algumas ainda em tijolo, sempre de porta aberta, mas todas, sem excepção, com uma TV, um sofá e uma parabólica gigante no telhado. À beira da estrada, grupos de homens jogavam às cartas e bebiam Skoll, iluminados por uma puxada ilegal de um poste de electricidade.
Ou então, podia começar pela osga que me recebeu na recepção do hotel, queitinha no candeeiro laranja. Alguém comentou: "estamos no meio da natureza, calangos (lagartos) não vão faltar". E não errou. Não se passou um dia sem ver uma espécie rastejante, na mesma proporção que via os golfinhos à minha beira, no mar, à distância de dois, três metros. Confesso que este foi, para mim, o ex-libris desta viagem. Ter por ali os golfinhos a nadar... Sei lá, nem sei explicar a sensação. Eu, que já nadei com eles em alto mar, em Cuba, sentia uma alegria infantil inexplicável a olhar para aquilo. E todos os dias, eles andavam apenas naquela praia. Mais do que o hotel, o chalé em madeira, os jardins, aquilo sim, era um verdadeiro luxo.
Conheci pessoas simpáticas, humildes, sem vícios de dar graxa ao turista tuga. Pobres de bens materiais mas ricos de espírito. Como o Xico da Rede, que calcorreava as praias debaixo daquele braseiro, com várias camas de rede e colchas, sempre bem disposto que, com sotaque sertanejo, apregoava: "Tá dormindo no chão? Xico da Rede é a solução". Inchava e sorria de orelha a orelha (deixava ver que mascava erva o dia inteiro) quando falava de um jornalista holandês que o conheceu e que fez duas páginas sobre ele. Mostrava-as plastificadas, como um tesourinho nada deprimente.
Afirmo sem dúvidas que esta viagem foi a minha terapia, mas não a cura. Infelizmente. E agora percebo o que me diziam sobre algumas zonas do Brasil (realço o "algumas"): há ali qualquer coisa que te cativa imediatamente, que te vicia e que te deixa profundamente infeliz por partires.






Parece exagerado? Não é.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ler este teu post soube-me a férias. Foi como que uma brisa marinha neste frio de cortar à faca, por isso soube-me bem. Mas trás, também, a nostalgia das férias que já lá vão...

Anónimo disse...

Amiga, faz com que o teu próximo destino de férias seja Pipa. Vais adorar. Tu e o Telmo. É a vossa cara!