A conversa começou mais ou menos desta forma: "naquele tempo, quando íamos para o monte..." A partir daqui, seguiu-se uma série de lembranças que me fez chegar a uma conclusão, exposta lá mais adiante.
Não conheço ninguém que no auge dos seus 15/16 anos (no mínimo), não fosse lá para o monte da cidade, que por acaso, tinha uma vista do caraças: ponte 25 de Abril, Cristo Rei, aeroporto... Um luxo!! Chegávamos devagar, com os faróis apagados como sinal de respeito pela privacidade dos que lá estavam. Até tinhamos lugares cativos. O meu é o actual Lote 88. Não me lembro de me ter acontecido um episódio digno de memória, para além das maratonas óbvias, tendo em conta que, no meu tempo, eu tinha que chegar a casa à meia-noite... E quando o horário se prolongava, era a festa no monte. Sei de alguém que experimentou a bagageira de um carro comercial e colocou a toalhinha entre a porta para esta não fechar. Findo o acto, puxa da toalha para a devida higienização e ups, f...-se, a porta fechou-se. A chave, as roupas, estavam na parte da frente do carro. Solução: partir o vidro, o que lhe valeu um prejuízo ao nível de uma noite num hotel de 4 estrelas.
Além do monte, havia alguns que recorriam aos descontos do cartão jovem nos hotéis de 3 estrelas e algumas pensões... da Costa da Caparica. Passeio de domingo com o namorado, directos à Costa, uma passagem pela praia, pela rua dos Pescadores e pimba, uma entrada rápida no hotel/pensão, com aquele ar de caso, de cabeça baixa, a pedir um quarto duplo... só para descansar, porque viemos de longe. Era até à noite, o apetite (de comida) só aparecia a caminho de casa. Pergunta a mãe: "Então onde foste?", responde a filha: "Fui comer um gelado à Costa", nova pergunta da mãe: "À Costa? Com esta chuva...? Vens com o cabelo molhado...", responde a filha na distância confortável do wc: "Então, apanhei chuva quando saí da geladaria."
E a malta era feliz... sexualmente. Ou pelo menos, pensava que era.
A mesma coisa quando íamos às matinés no cinema, ver os filme do Van Damme e do Steven Siegel, que ninguém via... Era aproveitar o desconto do cartão jovem, o escurinho da sala e cada casal ia para um canto da fila...
Nesse tempo, ninguém se preocupava em ser apanhado, se alguém estava a ver... Era no banco do jardim, rodeado de putos e velhotes, era nas escadas de um prédio qualquer, era numa esquina mais escondida... Era onde nos apetecesse.
Hoje, isso mudou. Bem podemos experimentar as divisões da casa, a mesa da sala, o lavatório da casa-de-banho, o terraço, a cama de rede, a garagem... Ou até, ir a um motel no aniversário de casamento. Mas nada, NADA, se compara à espontaneidade daquela idade. E foi isso que se perdeu e que se perde com a idade.
Belos tempos, aqueles...
2 comentários:
perdeu se?????
não nuno não se perdeu....
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