É a primeira vez que o digo assim, aqui, publicamente. Estou desempregada. Porquê só agora? Porque ainda não tive tempo para mais nada, esta é a verdade. Por entre as burocracias normais (centro de emprego, segurança social) há que juntar as burocracias com que não contávamos. Exemplifico. Andar atrás do patrão para pagar o que deve. Informar-me do que posso fazer para receber o que o patrão não quer pagar. Responder à Segurança Social que me informa que, por causa do meu ex-patrão pelintra, não tenho direito ao subsídio de desemprego. Constatar que é preciso muita perseverança para enfrentar as questões burocráticas... Percebo agora porque muita gente deixa passar as coisas. No meio disto tudo, não houve um entidade pública a quem me dirigisse que me dissesse: "Sim senhora, vamos já tratar disto". Não... é o tem de ir ali, tem de escrever para acolá, tem de vir para a semana... Não é fácil...
Assim como não é fácil lidar com a nova condição social: a de desempregada. É um rótulo e parece que o trazemos bem colado na testa. É a roupa que não brilha. É o ânimo desanimado. É a maquilhagem que já não faz milagres. Parece que tudo corre mal. Vistos pelos outros, somos uns coitados, porque aqueles ainda têm emprego. Mal ou bem, recebem qualquer coisita e não se pode exigir muito, qu'isto não está para essas coisas. Enganam-se. Agora, mais do que nunca, sei o que não quero. Não vou compactuar com aqueles que se aproveitam da crise, para oferecer empregos miseráveis, mal pagos e onde a palavra exploração é aceite por ambas as partes. Mesmo sem portas ou janelas abertas, não nos precipitemos.
Bom, não pensem que me estou a armar em heroína. Tenho as minhas quebras. Quando, por exemplo, vou a uma entrevista e me dizem que tenho currículo a mais para o que querem. Ou, pelo contrário, não tenho a experiência necessária.
Não, não é fácil. E esta chuva não ajuda...
Espero que o sol brilhe algures...