Não sei se vos acontece o mesmo, mas nos meus almoços, lanches e jantares de família, o tema principal de conversa acaba sempre por ser o mesmo: a nossa infância. Então quando está a família toda, mãe, filhas, netos, maridos e namorados, cruzam-se episódios e comparam-se as histórias. Estórias, portanto. A mãe é quem, quase sempre, dá o mote. "Aquela", referindo-se à mais velha, era a líder, e esta (referindo-se à do meio) fazia tudo o que ela dizia e andava sempre atrás dela. Depois veio a outra (eu) e faziam dela uma boneca. Acordavam-na, faziam dela a filha quando brincavam às casinhas". A mais velha acrescenta mais alguns pormenores. Claro que passamos a maior parte do tempo a rir, e isto, para os meus sobrinhos, é ouro sobre azul, ouvir falar da mãe e das tias quando eram pequeninas. "A do meio era a mais calminha. Assim que se levantava, abria a porta da cozinha e perguntava: Vó, há xôpa? A Lena já não brincava tanto e então, arrumava os brinquedos todos, nas prateleiras, direitinhos e não deixava a mais nova (eu) mexer. Nem a deixava brincar com elas, dizia que ela era uma pirralha e que não sabia brincar. Bem, dava-lhe (a mim) a 'veneta', ia ao quarto e atirava os brinquedos todos ao chão, pisava-os. Depois a mais velha batia-lhe, ela vinha chorar para o pé de mim e dizia que as mais velhas não a deixavam brincar. Depois começou na fase de arrancar os cabelos quando ficava irritada (continuamos a falar de mim), e um dia ouviu-me, escapou-se-me, a dizer 'puta' e começou nisso. Quando se chateava, arrancava os cabelos e gritava para mim a chamar-me puta." Devia ter uns 3/4 anos. Grande lição para os adultos: nunca dizer asneiras ao pé de crianças na fase do papagaio, em que repetem tudo o que ouvem.
Claro que estas coisas depois têm as suas repercussões anos mais tarde. Eu e a mana mais velha somos como cão e gato, apesar de termos o mesmo feitio. O dela muito, mas muito pior do que o meu. A do meio continua a ser a mais meiguinha, apesar de ter os seus 'vaipes'. Fazia sempre o que lhe pedia, dáva-me tudo, e eu, claro, de vez em quando, tratava-a mal. Agora já não, mas ela continua a ser meiguinha, trata-me como a mana mais nova. E isso, sabe bem.
Eu, opinião geral da audiência familiar, continuo a ser a enfant terrible.
Há coisas que nunca mudam!